domingo, 19 de janeiro de 2014

Pavlov e Skinner: a origem do adestramento e todas as técnicas de adestramento!

As bases do adestramento canino surgiram há cerca de 100 anos, quando no início do século XX o fisiologista russo Ian Petrovich Pavlov estava estudando o funcionamento das glândulas salivares em cães e acabou percebendo que sinais sonoros (como o toque de um sino) emitidos antes da alimentação dos cães faziam com que eles salivassem, mas a grande descoberta foi que após um tempo de repetição do som antecedendo a alimentação, apenas com o sinal sonoro os cães já salivavam, sem que fosse necessário o aparecimento da comida.

A observação de que um estímulo poderia gerar uma resposta acabou dando origem ao denominado “condicionamento clássico”. Desta maneira, existem reflexos condicionados que são aprendidos através de um estímulo que gera uma resposta fisiológica ou psicológica por estar associado a uma situação aversiva ou agradável e os reflexos incondicionados, também denominados comportamentos inatos, que hoje conhecemos como comportamentos determinados geneticamente . Algum tempo depois, o psicólogo Burrhus Frederic Skinner propôs o “condicionamento operante”, teoria em que o comportamento tem sua frequência aumentada ou reduzida de acordo com as consequências deste comportamento. Ou seja, se um comportamento é recompensado, ele aumentará de frequência, se ele é punido terá sua frequência reduzida. Assim, surge o behaviorismo que entende os comportamentos dos seres vivos como respostas aos estímulos ambientais apresentados. Estas respostas comportamentais dependem de uma série de fatores, como a evolução da espécie, a história de vida do indivíduo e os fatores culturais.
E como isso tudo se encaixa em adestramento? Bom, para adestrarmos um cão, precisamos primeiramente compreendê-lo, entender o comportamento dele e a causa dos comportamentos, ou seja, o que o está levando a ter tal comportamento. Assim, podemos então moldar este comportamento e ter os resultados que esperamos.
Ou seja, se temos um comportamento, e queremos aumentar tal comportamento, podemos associar ao cão que este comportamento é bom, dando uma recompensa por este comportamento que tenderá a aumentar de frequência. Porém, se queremos eliminar um comportamento, podemos dar algo aversivo ao cão para reduzir a frequência deste comportamento. Porém, esta não é a única forma de se adestrar um cão. Podemos também ter um cão que está recebendo várias recompensas, mas que de repente realiza um comportamento que faz com que ele pare de receber estas recompensas, então este comportamento reduzirá de frequência. E ao contrário da mesma forma, quando o cão está recebendo um estímulo aversivo constantemente e algum comportamento faz com que ele pare de receber tal aversivo, este comportamento tenderá a aumentar de frequência.
Agora, vamos introduzir os nomes:
Reforço é algo que fará o comportamento aumentar de frequência.
Punição é algo que fará que o comportamento reduza de frequência.
Positivo é quando algo é inserido.
Negativo é quando algo é retirado.
Assim, existem apenas quatro formas de adestrar um cão aplicando:
Reforço positivo: o cão recebe algo bom. (Reforço, pois aumentará o comportamento; positivo, pois algo é inserido.) Apresentando algo bom ao cão, o comportamento aumentará de frequência.
Reforço negativo: o cão para de receber um estímulo aversivo. (Reforço, pois aumentará o comportamento; negativo, pois tem algo sendo retirado.) O cão não gosta de receber algo ruim e aumentará a frequência do comportamento que elimina o desconforto.
Punição positiva: o cão recebe um estímulo aversivo. (Punição, pois reduzirá o comportamento; positiva, pois algo será inserido.) Algo ruim será inserido e reduzirá a frequência do comportamento que gerou este estímulo aversivo.
Punição negativa: o cão para de receber algo bom. (Punição, pois reduzirá o comportamento; negativo, pois algo será retirado.) Quando o cão tem um comportamento que faz com que ele pare de receber uma recompensa, este comportamento terá a frequência reduzida.
Pronto! Agora você já sabe adestrar seu cão! Risos...  É, de nada adianta saber a teoria sem saber aplicá-la. Por isso, milhares de pessoas procuram adestradores mesmo depois de já terem lido dezenas de livros de adestramento. Qual é a dificuldade? Agora é saber qual é a técnica que deverá ser utilizada em cada um destes casos. Vamos lá:
Acho que posso dividir os adestradores em dois grupos básicos. Os “adestradores clássicos” utilizam o adestramento que era amplamente realizado até ao menos 20 anos atrás e utilizam em suas técnicas basicamente estímulos aversivos e técnicas de forçamento clássico, onde o cão é forçado a realizar tarefas para não ser punido. Hoje em dia, existem os “adestradores positivos” que tentam sempre utilizar recompensas como moeda de troca em suas técnicas, nesta técnica o cão tem que querer trabalhar e para isso precisa ser motivado.
Os “adestradores clássicos” utilizam amplamente a punição positiva, pois pune (com gritos, tapas, trancos, enforcamentos, barulhos, sprays, choques) o que o cão faz de errado a fim de reduzir a frequência deste comportamento. Porém, se o comportamento não tiver redução real, instantânea e a longo prazo, a técnica não estará tendo efeito. Outro problema é que estímulos aversivos acabam deixando o cão com medo, inseguros e muitas vezes agressivos. Estes adestradores também utilizam bastante o reforço negativo, ou seja, os adestradores aplicam um estímulo aversivo e só eliminam o desconforto quando o cão realiza o que é solicitado, como é o caso de estrangular até o cão ele sentar ou dar um choque constante até o cão ir para o canil.
Os chamados “adestradores positivos” utilizam mais o reforço positivo em suas técnicas, pois eles recompensam (por exemplo com brinquedos, carinho e petiscos) comportamentos para favorecer que estes comportamentos aumentem de frequência. Outra técnica que também acaba sendo utilizada por eles é a “punição negativa”, pois ao não fornecer a recompensa até que o comportamento seja apresentado, o cão reduzirá os comportamentos que não resultam em recompensa.
Ok, agora você entende como os adestradores trabalham e não precisa mais deles, certo? Errado, você não sabe aplicar a técnica! Um adestrador sabe qual técnica aplicar a determinada situação e devendo ter prática ao aplicá-la ao utilizar intensidade, frequência e dificuldade ideais para aquele caso. Lembrando que cada adestrador vai resolver a situação de uma determinada maneira. É importante você perceber que adestramento não é uma ciência exata: os comportamentos admitem diversas interpretações e as técnicas acima podem ser utilizadas de diversas formas. E não há uma correta. Existem, porém, as que causam mais dor ou mais prazer ao cão, as que mais estressam o cão e as que os deixam mais felizes. Existem também as mais éticas e as mais aceitáveis pela sociedade protetora dos animais. Porém, o mais importante é você definir o que você vai querer aplicar no seu cão.
Agora, seja lá o que você fizer, faça com consciência...

sábado, 11 de janeiro de 2014

Será que cães são mesmo animais de matilha???

Este é um tema muito polêmico e vou colocar aqui um texto de uma pessoa mais especializadas para falar sobre o assunto. O texto abaixo tem seu original no blog do Jean Donaldson (http://academyfordogtrainers.com/blog/2013/are-dogs-pack-animals/) e o texto em português, colocado abaixo foi retirado do seguinte link: http://caosciencia.blogspot.com.br/2009/12/serao-os-caes-animais-de-matilha.html


Escrito por Jean Donaldson no seu blog
Quando eu comecei a treinar cães pela primeira vez, o mantra era “cães são animais de matilha”. Isso nunca era questionado: os cães eram animais que desenvolviam laços fortes com as suas famílias humanas, por vezes mesmo até ao ponto de desenvolver desordens como ansiedade por separação. Muitos dos comportamentos caninos foram construídos tendo a hierarquia social em mente. Ninguém se lembrou de observar o que fazem os cães quando estes não fazem parte duma família humana, isto é, cães ferais. Como tal, há uns tempos atrás fui observar o que chamamos de populações de cães ferais e semi-ferais à volta do mundo. Acontece que existem imensas populações dessas pelo mundo fora.

Durante a ditadura de Nicolae Ceaucescu, uma reconstrução muito mal pensada na Romania, resultou na demolição de milhares de casa e da recolocação de milhares de famílias para apartamentos pequenos espalhados pelo país. Para os cães dessas famílias, isso significou o abandono maciço, onde estes se multiplicaram e talharam uma existência marginal desde então.
Uma triste situação seja de que ângulo fôr, a explosão de cães ferais na Romania é uma experiência não intencional que se desafia um dos maiores aforismos do mundo do comportamento canino: que os cães são animais de “matilha”. Os cães na Romania não formavam matilhas. As suas associações uns com os outros eram breves e casuais: dois cães podem estar juntos temporariamente e depois separarem-se. Os cães são muitas vezes atraídos uns aos outros através dum escasso recurso tal como a comida ou uma cadela em cio mas assim que esse magneto desaparece, eles separam-se.
Isto contrasta com os lobos que, sendo geneticamente uma espécie idêntica aos cães, vivem em matilhas. Como é explicado pelo biólogo da Universidade de Minnesota, o Dr. David Mech, cada matilha é um núcleo familiar que consiste do par que acasala e dos seus filhos. Quando os filhos atingem a maturidade por volta dos dois anos de idade, eles dispersam para evitar o acasalamento interno e se viverem tempo suficiente, acasalam com outras fêmeas e formam a sua própria família (matilha).
As vidas sociais dos cães na Romania podem ser a excepção à regra, por isso é necessário examinar todas as populações de cães ferais para formular uma hipótese acerca do comportamento social canino.
Muitas populações de cães ferais existem no sahara africano, América do Sul, Índia, México, Tasmânia (cães da ilha de Cook), Hawaii, Banguecoque e numa situação paralela à de Romania, em Moscovo. Acredita-se que os cães Pariah no subcontinente Indiano são os que formam uma população mais longa e contínua de cães ferais, datando quase 14,000 anos, quase tão longa quanto as provas arqueológicas existem de cães domésticos.
Existem casos de um cão que se junta a outro ou a um grupo por alguns duas, e outros que se aproximam dada uma fonte de comida, no entanto, nenhuma das populações acima faladas formam matilhas da forma que os lobos fazem. Os machos, na realidade, não participam na criação dos cachorros, que é a essência de uma matilha de lobos. E a procura de comida feita pelos cães é muito diferente do ritual de caça como atividade de aquisição de comida, outra diferença entre os lobos e os cães. 
Por contraste, os relatos do comportamento social dos Dingos são muito mais conflituosos. Muitas vezes a mesma fonte, dirá num parágrafo que os Dingos são primariamente solitários e que ocasionalmente se juntam com outros para poderem matar uma presa grande e mais tarde dizem que os Dingos são animais de matilha com hierarquias estáveis, à lá Lobo Cinzento. As recentes descobertas genéticas permitiram distinguir os Dingos puros daqueles que eram híbridos de lobos. Curiosamente, os híbridos são muitas vezes indistinguíveis ao olho destreinado. Portanto, e sendo generosa, pode ser que a discrepâncias existente entre (e dentro da mesma) fontes devesse parcialmente à observação mista de animais híbridos e Dingos puros.
Um colega meu que fez várias viagens à Ilha de Cook para dar tratamento veterinário à população de cães ferais apercebeu-se de duas coisas: existe um grande número de cães com pernas curtas, e uma total falta de coesão social. Ela esperava e procurou matilhas, uma vez que sempre falou e ouviu que os cães são animais de matilha. Vezes sem conta e sempre que lá voltava ela testemunhava aquilo que o Dr. Dunbar sempre disse, que os cães formam associações “soltas e transitórias” e não matilhas hierárquicas rígidas.Se vamos dizer que os cães são animais de matilha, temos que pensar nas imensas populações de cães que, na ausência duma família humana, confinamento e domesticação, simplesmente são independentes e não animais de matilhas.
Para ajudar os cães na Romania clicar no link romaniaanimalrescue.com
Para ajudar os cães em Moscovo clicar no link moscowanimals.org
Para ajudar os cães de Banguecoque clicar no link scadbangkok.org
Para ajudar a controlar a população de cães na Índia, visite wsdindia.org.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O fim da Dominância!!!

O termo "dominância" foi criado na década 70 pelo Dr. David Mech quando estudava lobos em cativeiro, pois ele percebeu que havia uma hierarquia formada entre os indivíduos. Este termo foi amplamente utilizado em diversos contextos, sendo também aplicado aos cães. Porém, temos um grande problema quando fazemos extrapolações de comportamentos observados em cativeiros para comportamentos de animais em vida livre. Outro grande problema é extrapolar comportamentos de uma espécie para outra, pois lobos são bem diferentes de cães. Pense em comparar norte-americanos com indianos... mesmo que eles falassem a mesma língua, os costumes são diferentes, a forma de se comunicar é diferente e a estrutura social é completamente diferente. Não depende de uma coisa, depende de uma série de fatores que alteram definitivamente o que está sendo comunicado. Por isso, não podemos extrapolar o comportamento de grupos de lobos em cativeiro para todos os cães do mundo todo.
Há ainda uma outra consequência da palavra dominância: ela remete a uma hierarquia fixa, ou seja, para todas as situações, aquele indivíduo é dominante e o submisso nunca tem preferência. Na verdade, se você analisar qualquer cão, vai ver que isso não é verdade... primeiro que um indivíduo nunca é líder em relação a todos os outros indivíduos (como o rei em um povo), depois que sempre há ao menos uma coisa que o suposto submisso tem preferência, como por exemplo um brinquedo, petisco, acesso a um local, entre outros. Isso quebra a suposta lei da dominância, pois se ele é dominante, é uma hierarquia que deveria estar relacionada a tudo.
Em relação a esta tal de hierarquia, um pré-requisito básico para que qualquer tipo de hierarquia exista é que cães sejam animais que vivem em grupo, as chamadas "matilhas", mas na verdade, não existe consenso se realmente cães domésticos são animais de matilha. Vamos entender porque não... Se cães realmente fossem animais de matilha, os cães abandonados (cães ferais), sempre formariam matilhas de cães de rua e não é isso que observamos. Em várias situações, estes cães resolvem ser solitários, às vezes formam grupos sociais, mas existem cães que vivem preferencialmente solitários e se juntam temporariamente a outros devido a algum recurso (abrigo, alimento, acasalamento...). (Para saber mais: http://www.adestradorasofia.blogspot.com.br/2014/01/sera-que-caes-sao-mesmo-animais-de.html)
Muitos adestradores que utilizam a terminologia dominância, dizem que o cão se relaciona com o ser humano como se este fosse da sua matilha... você acha mesmo que cães não conseguem diferenciar indivíduos da sua própria espécie? Bom, pelo que vejo, eles sabem que somos de espécies distintas e se comunicam com as pessoas de uma maneira diferente que se comunicam com seus colegas da mesma espécie. Muitas vezes, cães se olham e se comunicam apenas usando linguagem corporal, mas com humanos, muitas vezes eles precisam latir para conseguirem o que querem. Estudamos no primeiro ano do ensino médio as relação intra e inter-específicas, nelas podemos ver como espécies diferentes e semelhantes interagem entre si, sabendo então diferenciar um coespecífico de um animal de outra espécie. 
O mais importante nisso tudo isso é observar que a dominância remete a um ser rebelde, que precisa de comando, limites, repressão, punição, controle... O termo dominância justifica que diversas técnicas punitivas e repressivas seja utilizadas. A dominância é imposta agressivamente, sem compreensão, pois se ele é dominante a única compreensão é que o cão precisa de controle e você colocará este controle agressivamente...  
Bom, quando destruímos a ideia de "dominância", além de ficarmos sem os termos relacionados, como "hierarquia", "líder", "dominante", "submisso"..., ficamos sem saber como explicar o que ocorre entre os cães. Eu fiquei um tempo perdida neste vazio, mas ao destruir esta visão de dominância, eu ganhei milhares de outras de  saídas: o cão pode estar com medo e estar apresentando agressividade por medo, o cão pode estar se sentindo inseguro e atacar para se proteger, o cão pode estar precisando gastar energia e o faz da maneira que lhe vem à cabeça e o mais importante: há uma falha na comunicação entre o cão e seu dono. Engraçado que vários destes diagnósticos eu já fazia associado à justificativa da dominância, mas quando vemos o cão como ele realmente está, fica muito mais fácil de explicar os comportamentos, fazer diagnósticos e tratamentos de problemas comportamentais. A dominância era como um filtro embaçado que atrapalhava minha visão. Tente esquecer da dominância e olhar para os cães, interpretando-os. Tente evitar antropomorfismos, ou seja, atribuir características humanas aos cães. Tente apenas ver o cão, como ele realmente é: o seu cachorro!!!
Ah, sim, para finalizar: um vídeo do próprio David Mech explicando o equívoco da utilização do termo "dominância":  http://www.youtube.com/watch?v=p3OJz41fIxI

Ps1: Se você está inconformado com o que acaba de ler, pois contraria o que você assistiu no programa do "Encantador de Cães", assista o programa no mudo e faça a sua própria interpretação, analise inclusive as técnicas utilizadas pelo Cesar Millan, veja se elas estão sendo eficazes ou se apenas reprimem os sinais comunicativos dos cães, analise se o cão está estressado, como o cão está se comunicando, e visualize as técnicas punitivas. Ah, e não se esqueça, aquilo é apenas um programa de televisão, possui cortes e você não sabe o que se passa por de trás das câmeras. Você não sabe como ficou o comportamento do cão depois que "O encantador de cães" foi embora e o programa acabou...
Ps2: Especialistas falando sobre o programa do Encantador de Cães:
http://caosciencia.blogspot.com.br/2008/12/cesar-millan-toda-verdade.html

Segue abaixo o texto do link acima:
"A National Geographic submeteu ao Dr. Andrew 4 cassetes do programa "O encantador de cães" antes deste ir para o ar, para que fosse analisado e eles tivessem uma opinião acerca do mesmo. Está aqui a carta escrita pelo conceituado veterinário à National Geographic que como todos sabemos foi ignorada. O texto foi retirado na íntegra daqui!
Por Andrew Luescher, DVM, Veterinário especialista em Comportamento Canino
Clínica de Comportamento Animal
Universidade de Purdue

Eu revi as 4 cassetes enviadas para mim pela National Geographic. Agradeço a oportunidade de poder visioná-las antes do programa ser transmitido na televisão. Eu terei muito prazer em rever quaisquer programas que lidem com comportamento de animais domésticos e acredito que esta é uma das responsabilidades da nossa profissão.
Eu estou envolvido na formação contínua de treinadores de cães nos últimos 10 anos, primeiramente através do programa universitário “Como os cães aprendem” na Universidade de Guelph (Colégio Veterinário de Ontário) e posteriormente através do curso DOGS! na Universidade de Purdue. Como tal, estou bem ciente onde se situa o treino canino hoje em dia, e devo dizer que as técnicas usadas por Millan são ultrapassadas e inaceitáveis não só para a comunidade veterinária, mas também para muitos treinadores de cães. A primeira questão no que toca às cassetes enviadas que eu coloco é: O programa repetidamente avisa as pessoas para não tentarem aquelas técnicas em casa. Então qual é o propósito deste show? Penso que temos que ser realistas: as pessoas vão tentar estas técnicas em casa, infelizmente para detrimento do seus animais.
As técnicas de Millan são quase exclusivamente baseadas em duas técnicas apenas. “Flooding” e castigo positivo. No “flooding” o animal é exposto ao estímulo a que lhe causam medo (ou agressão) e impedido de evitar e sair da situação, até que pare de ter uma reação. Para usar um exemplo humano: aracnofobia, sera tratada, fechando um indivíduo num armário, libertando centenas de aranhas lá dentro e mantendo a porta fechada até que a pessoa parasse de reagir. A pessoa talvez se curasse com tal método, mas poderá também ficar severamente perturbada e terá sofrido uma grande quantidade de stress. “Flooding” tem, como tal, desde sempre sido considerado um método de tratamento cruel e que incorre muitos riscos.
Castigo positivo refere-se à aplicação de um estímulo aversivo ou correção como consequência de um comportamento. Existem muitas preocupações acerca do uso do castigo, que vão para além do próprio desconforto do mesmo. 
Castigos são extremamente inapropriados para o tratamento da maioria de agressões e para o tratamento de qualquer comportamento que involva ansiedade. O castigo pode suprimir a maioria do comportamento, mas não resolve o problema que o originou, isto é, o medo ou a ansiedade. Mesmo em casos onde a aplicação do castigo é correta, esta pode ser considerada inapropriada, muitas são as condições que têm que ser reunidas para que isto aconteça, e que a maioria dos donos de cães não conseguem fazer. O castigo deverá ser aplicado cada vez que o comportamento é demonstrado, dentro de meio segundo do comportamento ser demonstrado e à intensidade correta.
A maioria das explicações teóricas que Millan fornece como causas para os problemas comportamentais estão erradas. Nem um único destes cães tem um problema de dominância. Nem um só destes cães queria controlar a família. A única coisa na qual ele tem razão é que calma e consistência são extremamente importantes, mas estes factores não justificam os métodos presentemente usados por ele como apropriados ou justificáveis.
O último episódio (problema obsessivo compulsivo) é particularmente preocupante, porque este problema está diretamente relacionado com um desiquilíbrio nos níveis e receptores neurotransmissores e é como tal uma condição médica. Seria apropriado tratar uma pessoa com um problema de obsessão-compulsiva através de castigos? Ou ter um leigo a tratar tais casos?
Eu e os meus colegas e um sem número de líderes na comunidade de treino canino temos trabalhado durante anos para eliminar precisamente tal crueldade, ineficácia (em termos de cura) e técnicas inapropriadas como as apresentadas neste programa."

Dúvidas, críticas, sugestões?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Na maioria dos casos, a agressão dos cães é causada por medo.

Ao se adestrar um cão agressivo, precisamos antes de tudo fazer o diagnóstico do cão e entender a causa da agressão. Geralmente, a causa da agressão é o medo. 
A agressão surge de cães que se sentem inseguros, indefesos, muitas vezes traumatizados e frustrados por não conseguirem fazer a ameaça ir embora ou não poderem sair de situações incômodas. Estes cães descobrem que quando sentem medo e são agressivos têm muito mais sucesso do que quando tentam fugir ou mostrar seu incômodo de outra maneira, pois assim que mordem, a ameaça se afasta.
Esta geralmente é a causa da maioria das agressões. Porém, existem milhares de maneiras de trabalhar um cão agressivo. E a pior delas é querer que ele pare de rosnar. Pois rosnar é um sinal comunicativo. Quando ele rosna, ele diz que está incomodado e não precisa morder para fazer a ameaça se afastar. 
Se um cão é agressivo, precisa de compreensão, não repressão. Se você está com medo e alguém brigar com você, você vai se sentir muito pior. Seu quadro vai piorar milhares de vezes, além de ter que lidar com seu medo, você não poderá se expressar e ainda terá um estresse extra para lidar que é a pessoa brigando com você. Esta situação extrema faz com que você tenha que lidar com isso, porém, a única solução eficiente acaba sendo você agredir ferozmente quem está te atacando, sem avisar, pois nem isso te foi permitido. Este exemplo ilustra o que ocorre quando se trata um caso de agressividade com técnicas agressivas, punitivas e repressoras. O cão medroso se transforma no cão-bomba, que está prestes a explodir a qualquer momento, sem aviso. O cão que só morde, sem aviso prévio.
Então, a solução é trabalhar este cão agressivo como um cão medroso. Compreendê-lo, trabalhar este medo, dar carinho, amor, tranquilidade e paz a ele. Fazê-lo se sentir seguro... Desta maneira, a agressão irá embora para sempre, pois ele se sentirá seguro e sem motivo para atacar.
Por favor, se você tem um cão agressivo e for contratar um adestrador, cuidado com as técnicas dele, não permita nada repressivo. Este é um apelo meu, de todos os "adestradores positivos" e principalmente dos cães frustrados por não conseguirem se comunicar com os humanos.

Tradução: 
Se isso... Parecesse mais com... isso

Você se sentiria diferente em relação a isso?
Medo não é uma escolha! Não puna....
Trate-o!!!

Ps: Outras causas de agressividade
* Raças que propiciaram a característica de agressão. Ou seja, os cães selecionados para a procriação eram mais agressivos e tornaram os indivíduos desta raça mais agressiva.
* Manejo: o tratamento que o cão recebe propicia a agressividade.
* Treinamento: adestramento para ensinar ou reforçar a agressividade do cão.
* Doenças dolorosas que fazem o animal se sentir mal e este acaba se tornando se tornando agressivo por se sentir indefeso e com dor.
* Há relatos de doenças neurológicas que geram agressividade, mas eu nunca trabalhei nem cão com este diagnóstico.
* Entre outras causas...